Trilhas ecológicas interpretativas
Ariadne Peres do Espirito Santo
A Interpretação Ambiental se fundamenta na captação e tradução das informações do Meio Ambiente. Contudo, não lida apenas com a obtenção de informações, mas com significados, buscando firmar conhecimentos e despertar para novos, exercitar valores cognitivos, criar perspectivas, suscitar questionamentos, despertar para novas perspectivas, fomentando a participação da comunidade e trabalhando a percepção, a curiosidade e a criatividade humana.
Como instrumento da Educação Ambiental visa a integração socio-ambiental através do conhecimento dos recursos naturais e da valorização do meio ambiente, da transformação do ser humano em agente transformador e multiplicador das concepções
obtidas e absorvidas e da melhoria da qualidade de vida.
Segundo Sofia Vilarigues, um dos meios divulgados na interpretação ambiental é o dos percursos interpretativos. Estes podem ser temáticos, com a predefinição de um tema antes da caminhada, ou de descoberta, ou turí sticos e de lazer.
As trilhas ecológicas interpretativas se enquadram dentro dos percursos interpretativos orientados metodologicamente e, não devem ser confundidas como meras picadas abertas na mata.
Trilhas, como meio de interpretação ambiental, visam não somente a transmissão de conhecimentos, mas também propiciam atividades que revelam os significados e as caracterí sticas do ambiente por meio do uso dos elementos originais, por experiência direta e por meios ilustrativos, sendo assim instrumento básico de programas de educação ao ar livre (Pádua & Tabanez, 1997)(Tilden 1967, Ashbaugh & Kordish 1971 apud Possas, 1999).
Assim, as trilhas constituem um instrumento pedagógico importante, por permitir que em áreas naturais sejam criadas verdadeiras salas de aula ao ar livre e verdadeiros laboratórios vivos, suscitando o interesse, a curiosidade e a descoberta e possibilitando
formas diferenciadas do aprendizado tradicional.
São em geral estruturadas
As trilhas possibilitam uma grande diversidade de eixos temáticos e abordagens ecológicas tanto com finalidades acadêmicas (no ensino fundamental, médio e superior bem como em atividades de pesquisa e investigação cientí fica); com finalidades de fornecer conhecimento e esclarecimento lúdico a comunidade em geral.
A interpretação nas trilhas pode incluir: atividades dinâmicas e participativas, em que o público recebe informações sobre, por exemplo, recursos naturais, exploração racional, conservação e preservação, aspectos culturais, históricos, econômicos, arqueológicos etc (Tabanez et al., 1997 apud Tabanez & Pádua, 1997 ).
As vantagens das trilhas se residem no ônus relativamente baixo para sua estruturação, o que é providencial em um país como o Brasil, onde há uma alta diversidade biológica e uma grande escassez de recursos; constituem um instrumento pedagógico prático e dinâmico, proporcionando uma aproximação à realidade dos temas abordados; suscitam uma dinâmica de observação, de reflexão e de sensibilização; proporcionam uma diversificação de atividades e também um comportamento a ser adotado. Seu inconveniente é que exigem manutenção e fiscalização permanente, principalmente em áreas onde há ocupação urbana nas adjacências.
Como estruturar uma trilha?
Em primeiro lugar, devem ser feitas excursões ou visitas de reconhecimento de área aos locais pretendidos, quantas vezes forem necessárias, objetivando uma observação panorâmica dos locais quanto a acessibilidade e viabilidade dos mesmos, quanto à aberturas de trilhas ou utilização de caminhos já semi-abertos; o levantamento preliminar de possí veis temáticas e o contato com o conhecimento tradicional local ou dos arredores.
Em uma etapa posterior segue a definição da linha de atuação: acadêmica e/ou social, a elaboração de um plano de ação (diretrizes) ou projeto. Do ponto de vista teórico e prático, começa o levantamento dos recursos para subsí dio dos eixos temáticos: flora, fauna, estudo do solo, recursos hí dricos (se houveram coleções de água nas adjacências), problemática ambiental etc.
A escolha do grupo-alvo deve obedecer critérios diferentes quanto a estruturação da trilha. Atividades, infra-estrutura fí sica, eixos temáticos, linguagem, material de apoio, recursos humanos, etc. devem estar de acordo com a faixa etária ou com o ní vel de escolaridade do grupo-alvo.
A criação da infra-estrutura fí sica inicia com a abertura e/ou limpeza da trilha, delimitação do percurso-extensão, da largura da trilha. Os elementos originais como árvores caí das (troncos) podem ser utilizados para a fabricação das placas (informativas, indicativas ou de sinalização e educativas) que serão colocadas ao longo do percurso bem como na fabricação de pequenos bancos ou lixeiras.
Dentro do plano de atividades são elaborados três cronogramas: um para o trabalho de campo, um para as visitas às trilhas e outro para sua manutenção. É necessária a formação de recursos humanos através do treinamento de guias ou monitores que orientam o grupo-alvo nas visitas as trilhas; e de estagiários e bolsistas nas atividades de pesquisa e levantamento dos recursos.
As visitas às trilhas são alicerçadas com pré-palestras conceituais em que também são fornecidas orientações gerais para a caminhada nas trilhas. Há necessidade de elaborar material de apoio e este deve ser informativo, suscitar reflexão e questionamentos e ter a finalidade de subsidiar monitores, guias, professores, estudantes e a comunidade como um todo nas visitas às trilhas. Em geral possuem várias opções de atividades e temas para reflexão, objetivando estimular o grupo-alvo à experimentação direta e observação.
Constituem este tipo de material, roteiros, formulários de acompanhamento de aulas práticas, relatórios, cartilhas, manuais, panfletos ou folders explicativos.
Assim, as trilhas são guiadas e durante o percurso o monitor interpreta o ambiente utilizando as placas e o material de apoio. Estimulando sempre a participação do grupoalvo e despertando o interesse do mesmo. O grupo deixa de ser passivo para ser ativo “descobridor” do meio natural (Pádua & Tabanez, 1997).
As trilhas devem ser avaliadas quanto a sua eficácia em um processo contí nuo e diversificado, pois a avaliação permite alterações e potencia novas práticas. Tudo tem que ser avaliado, inclusive a mudança de comportamento no grupo-alvo. Podem ser usados como instrumento questionários pré e pós-visita com perguntas subjetivas e/ou objetivas (Pádua, 1997) e diários de visitação, dentre outros.
Assim, espera-se prover laboratórios naturais com fins educativos e como área de interesse para desenvolver pesquisas básicas e aplicadas; e desenvolver na comunidade um conhecimento básico sobre formas de preservação e conservação do meio ambiente, aprendendo a regular o próprio comportamento em função da proteção da natureza.
Bibliografia consultada
PADUA, S.M. 1997. Cerrado Casa Nossa: um projeto de educação ambiental do jardim
botânico de Brasí lia. Brasília. UNICEF. 35pp.
PERES-ESPIRITO SANTO, A; GON ÇALVES, T. V. O; FERRARI, M. A L.; ALMEIDA, L. F.; ZORRO
M. C.
Ecológico dos Lagos Água Preta e Bolonha no Parque Ambiental de Belém. Projeto de
Ensino, Pesquisa e Extensão (em implantação).
POSSAS, I. M. 1999. Programa GUNMA: Integrando Parque Ecológico e Comunidade no
municí pio de Santa Bárbara do Pará. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do
Pará. 73pp.
TABANEZ, M. F. & PADUA, S.M. (orgs.) 1997. Educação Ambiental: caminhos trilhados no
Brasil. Instituto de Pesquisas Ecol ógicas - IP Ê. Brasília. 283 pp.
TABANEZ, M. F. & PADUA, S.M. 1997. Uma abordagem participativa para a conservação de áreas
naturais: Educação ambiental na mata atlântica. Anais do Congresso brasileiro de
comunidades de conservação. Curitiba-Paraná. Vol.02.
Interpretação Ambiental. Texto de Sofia Vilarigues (Internet).
Texto de Ariadne Peres do Espirito Santo. Disponível em: http://www.ufpa.br/npadc/gpeea/artigostext/trilhas.pdf
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